sábado, 7 de março de 2009

Procissão dos Homens em Ladoeiro (ver video)



Vestem-se de vermelho e preto e atravessam a escuridão da noite à luz das velas acesas pelas mulheres. Na Procissão dos Homens a fé não está presa à idade e há quem participe desde miúdo.


O ritual vai repetir-se todas as sextas-feiras desde o inicio da Quaresma até à Procissão do Senhor dos Paços. Às nove da noite é certo que há encontro marcado na Igreja da Misericórdia, depois de o sino convocar os mais distraídos.

Estamos no Ladoeiro, uma freguesia do concelho de Idanha-a-Nova que dá inicio às celebrações da Quaresma com a Procissão dos Homens. O nome diz tudo em relação a quem pode participar. Ou talvez não. Entre os que vestem as opas pretas e vermelhas há homens feitos e miúdos com pouco mais de 10 anos.

“Alguns passam o ano a pedir quando é que podem vestir uma opa”, conta o Padre José Afonso. Para o pároco da localidade, a Procissão dos Homens “é sem dúvida uma tradição que é muito para além daquilo que é a dinâmica de uma paróquia”, estando quase como que nos genes dos naturais da freguesia. À porta da Misericórdia, Manuel Lavado, de 86 anos, conta ao Reconquista que “já o meu bisavô era da Misericórdia”.

A cor das opas tem a sua explicação. De preto vão os homens da confraria da Misericórdia e de vermelho os do Santíssimo Sacramento.

A procissão começa na Igreja da Misericórdia, de onde partem os da opa preta. Minutos depois, após algumas paragens, chegam à Igreja Matriz onde celebram o terceiro mistério doloroso. É aqui que ganham a companhia dos homens da opa vermelha. Partem então para as ruas da localidade no regresso à Misericórdia. O passo é acompanhado pelo cantar do rosário, a oração do terço, o Pai Nosso ou a Avé Maria. À frente vai um grupo de homens e as confrarias alternam os cânticos com o coro da frente.

As mulheres ficam quase sempre à janela e em silêncio, alumiando o caminho dos homens com velas.

Luís Guerra, o presidente da Junta de Freguesia do Ladoeiro, diz que a tradição “está cada vez mais forte” e é um dos ex-líbris da localidade. No que toca a manifestações de fé, o Ladoeiro tem mesmo um passado rico, de que é exemplo a Procissão dos Nus, que é hoje apenas uma memória. Conta quem ouviu falar dela que em tempos os pais faziam um cortejo pelas ruas da aldeia com as crianças nuas, como forma de agradecimento pelo bom tempo e o seu beneficio nas colheitas.

Confrarias não são rivais

A diferença de cores nas opas está longe de pintar uma rivalidade entre as duas confrarias. O Padre José Afonso diz mesmo que na Semana Santa “as duas confrarias têm um papel fundamental e partilham funções nas procissões de quinta e sexta-feira santa”.

A Procissão dos Homens da passada sexta-feira contou com a participação do Bispo de Portalegre e Castelo Branco, que esteve todo o dia na freguesia em visita pastoral. D. Antonino Dias gostou da tradição e apelou a todos para que assumam a Quaresma de uma forma diferente. A caminhada que fez com as confrarias “convidou-nos a olhar para Cristo e desafiou-nos para com Ele aceitar a cruz da nossa vida e levá-la até ao alto do nosso calvário”.


Por: José Furtado

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