quinta-feira, 29 de março de 2012

Tradições de Idanha-a-Nova podem ser caso único em Portugal


Herança é explicada pelo isolamento, analfabetismo, implantação cristã e cuidado na preservação da memória

O afastamento dos centros urbanos, a iliteracia, a implantação cristã e o empenho de leigos e sacerdotes na transmissão da memória explicam que as tradições da Semana Santa em Idanha-a-Nova sejam provavelmente caso único em Portugal.

O concelho do distrito de Castelo Branco “é de uma riqueza extraordinária nas manifestações de piedade popular que, pensamos nós, não existem noutras regiões de Portugal”, afirmou à ECCLESIA o autor do livro “Mistérios da Semana Santa em Idanha”, lançado esta quarta-feira em Lisboa.

O “isolamento”, o “analfabetismo”, a marca deixada pelos Templários durante século e meio, período em que construíram sete castelos, número sem par noutro concelho do país, e os dois conventos franciscanos erguidos na região contribuíram para que as tradições da Semana Maior se mantivessem até hoje, explicou António Catana.

O autor sublinhou que a herança dos ritos e cantos religiosos tem sido preservada por “uma mão cheia de guardiões”, que a sabem transmitir com “amor, devoção e respeito, contagiando cada vez mais os visitantes”.

“Não há outro concelho que tenha nove Misericórdias em funcionamento, as quais dão uma grande alma a estas tradições”, destacou António Catana, acrescentando que os párocos têm sabido respeitar os rituais quaresmais, ao mesmo tempo que se esforçam para que sejam vividos “com cada vez maior vibração interior”.

Este legado cultural e religioso é fonte de atração: “As aldeias do concelho, como todo o interior, estão bastante abandonadas, mas por altura da Semana Santa as ruas enchem-se de automóveis, o que reflete bem o grande amor que as pessoas têm por este património cultural e material”.

No prefácio ao volume que inclui as transcrições musicais dos cânticos e fotografias de Hélder Ferreira, o bispo do Porto lembra que as tradições da Semana Santa em Idanha fundam-se na “base ancestral em que toda a humanidade assenta, em torno da terra de cada um, dos laços de sangue e da lembrança dos mortos”.

Os textos demonstram que “sobre essa base cresceu uma autêntica piedade popular, em que tais motivos foram ‘convertidos’ pelo significado último e ultimado que a vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo lhes deu”, escreve D. Manuel Clemente na introdução enviada à Agência ECCLESIA.

“Muito mais do que um catálogo de costumes bem guardados”, a investigação de quatro anos nas 17 freguesias do concelho situado 260 km a nordeste de Lisboa, junto à fronteira com Espanha, traz “sobretudo o lastro duma tradição viva de Páscoa continuada”, salienta o vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.

RJM


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