segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O Jogo das Cavalhadas do Ladoeiro


Jogo das cavalhadas, como é jogado no Ladoeiro. Idanha-a-Nova, Final dos Jogos Tradicionais, Maio de 2005

Quando era pequeno assistia com muito entusiasmo a um jogo tradicional que tinha lugar na minha aldeia. Eram as cavalhadas, momento alto da festa anual, em louvor do Santíssimo Sacramento e de Santo Isidro, patrono dos lavradores, que reunia dezenas de bestas, entre burros, mulas e cavalos, no largo dito da Avenida.

O jogo consistia em quebrar, com um tanganho, os potes de barro suspensos de uma corda atravessada no princípio da Rua de Santa Catarina. Todos à vez, ou apenas um em cada carreira, os cavaleiros esforçavam-se por dar golpes certeiros no potes, a fim de os partir e alcançar, dessa forma, o prémio aí resguardado. O pior era quando, em vez do prémio - um casal de pombos ou rolas, um galo, uma onça de tabaco - o pote vazava uma mão cheia de bosta sobre os galhardos jogadores. E quando não era bosta, era cinza, águas sujas, enfim imundícies de vária natureza. Era este o jogo.Numa aldeia vizinha da minha, perto da raia de Espanha, onde o Tejo principia o seu percurso em Portugal, há também um jogo de cavalhadas, aí chamado de Jogo do Galo. Trata-se do Rosmaninhal e o jogo tem lugar pela Festa de S. João.

Aqui a variante obriga a que os cavaleiros, a par ou sozinhos, tirem, com uma lança, uma argola suspensa de uma corda. Quem fizer tal proeza recebe um galo como prémio, aspecto este que empresta o nome ao jogo.Se no Rosmaninhal este jogo vem sendo realizado desde tempos longínquos, já no Ladoeiro caiu em desuso há cerca de duas décadas. A Associação Terras da Raia recuperou este divertimento popular e levou-o à Final dos Jogos Tradicionais, realizada em Idanha-a-Nova, em Maio último. Inspirada nesta iniciativa, a Comissão de Festas de Verão do Ladoeiro decidiu realizar, este ano, como noutros tempos, as tradicionais cavalhadas, com um sucesso surpreendente, face ao grande número de assistentes que ali se dirigiu, para ver os galhardos cavaleiros dando de esporas às suas montadas, fazendo ressoar na Rua de Santa Catarina os cascos ferrados dos cavalos.

A Associação Terras da Raia também marcou presença com os seus burros, e vários foram os assistentes que fizeram questão de experimentar, no mais tranquilo dorso de um burro, o tradicional jogo das Cavalhadas. Creio que esta experiência, bastante feliz e pouco dispendiosa – os cavaleiros para participar ainda pagam uma quantia simbólica e a organização apenas paga os potes e os prémios tradicionais - , demonstrou que não são os espectáculos onerosos que o povo quer ver nas sua festas, mas sim as mais vernáculas manifestações da sua raiz popular, não entroncasse este jogo, como creio, nas antigas justas e nos antigos torneios da cavalaria, que tinham lugar em dias especiais e datas festivas, para gáudio e prazer dos povos.

Pedro Rego

2 comentários:

  1. E quando falamos em Carnaval... quem não se lembra do "ti" Sebastião Louro. É com lágrimas nos olhos que o recordo pois me era muito próximo... Um marco na história do Ladoeiro! E já vi fotos do neto no Blog. Que tal uma merecida homenagem ao avô?

    ResponderEliminar
  2. E mais uma vez relembro o "ti" Sebastião Louro nas cavalhadas...

    ResponderEliminar